This Is Not A Little Monster…
O novo
disco da banda de quase 40 anos, KISS. Vigésimo
disco da banda, é o segundo da formação Paul Stanley [Vocais e Guitarras
Rítmicas], Gene Simmons [Vocais e Contrabaixo], Tommy Thayer [Guitarras Solo e
Vocais], e Eric Singer [Bateria, Vocais]. Também se trata do segundo disco do
KISS após o período quase sabático de 10 anos que a banda exerceu entre Psycho
Circus (1998) e Sonic Boom (2009), onde apesar de extremamente ativa, a banda
tocava apenas os clássicos de outrora. Mesmo sem novos discos, a banda
conseguia fazer turnês de grandes proporções em nível mundial, como a KISS Farewell
Tour que de Março de 2000 a Abril de 2001 tocou em 142 locais, com apenas 1
cancelamento, e angariou o status de turnê mais lucrativa do biênio, a frente
até de Madonna que na época fizera um grande tour pelo mundo também. Isto
motivava a banda a não criar novos discos. Gene Simmons, grande ativista contra
pirataria também dizia abertamente que o KISS não faria um novo disco antes que
a pirataria caísse por terra. Parece que não deu muito certo.
MONSTER é o
disco o qual quero falar. O novo disco do KISS prova desde o primeiro acorde
que é um disco do KISS. Podemos dizer certamente que o KISS é uma banda que nunca deixou um disco
passar em branco. Até os considerados fiascos da banda, chegaram a obter uma
colocação que seja no TOP 50 de singles, mesmo no caso de Carnival Of Souls que
sequer teve divulgação e conseguiu colocar Jungle como single por 2 semanas
ainda. Ou Unmasked, que transformou Shandi em Hit, mesmo fazendo música pop,
coisa que definitivamente não é a praia do KISS, ou The Elder, que colocou A World Without
Heroes nas charts. Porém com a mesma
certeza podemos dizer que a maioria dos discos do KISS não pode ser considerada
boa demais, do início ao fim. Com exceção dos discos lançados entre 1973 a
1978, retirando os álbuns solo de 1978, a discografia do KISS é considerada por
muitos como impecável, até o primeiro deslize no hit I Was Made For Loving You
e o resto do disco Dynasty de 1979. Porém, o que eu posso falar de MONSTER é
que ele quebra um jejum de quase 25 anos, ao fazer um disco bom demais, do
início ao fim. Revenge quase conseguiu
isso, e Sonic Boom também. Porém ambos ainda têm aquela musiquinha considerada “A
Enche Linguiça!” [Sonic Boom tem Stand que é chata pra caralho e Revenge tem a
imperdoável Every Time I Look At You, que roubou todo o peso do disco por 4
minutos]
Hell Or
Hallelujah começa MONSTER, primeira música e canção que puxa a sonoridade do
disco, debutou nas charts de singles em primeiro lugar e foi extremamente bem
aceita pelo público. Canção forte, com Riff grudante, a música praticamente é
uma tentativa de criar uma nova I Stole Your Love, considerada por mim a
abertura mais visceral que o KISS já conseguiu fazer em um disco. Porém Hell Or
Hallelujah ainda emperra em Modern Day Delilah, abertura mais consistente,
antes de poder flertar com I Stole Your Love, mas ela te manda largar de ser o
bunda mole que sempre é, e enfrentar a vida como ela é. O resultado inevitavelmente
será Inferno ou Aleluias! Ou dá merda ou dá lucro em bom português. Tommy
Thayer está solto na música e Gene Simmons coloca o baixo para rugir, algo que
o Demon só faz quando está fortemente inspirado.
Por falar
em inspiração, vemos a entrada de Wall Of Sound, canção alta, potente, com
letra grudante, e um Gene Simmons exibindo um vocal que infelizmente Paul
Stanley não tem mais. Firme, seguro de si, vibrante. A exibição de Contrabaixo,
de baixista para leitor, é inspiradora. Cale a boca e se curve, se é um fã de
Hard Rock, porque esse é um Hard Rock de raiz, e o KISS mostra que é um dos
criadores do estilo. Esta canção é uma arma carregada, é uma excelente linha de
baixo que deu segurança para Eric Singer que fez umas viradas de bateria
incríveis. Canção mais rápida do disco, mas que vai direto ao ponto. Uma
híbrida de Revenge com Creatures Of The Night. Muito KISS.
Freak, é a
terceira música do disco, que começa com um Riff de Rádio, e um Paul Stanley
com vocal meio melódico, até chegar ao solo, onde Paul solta um refrão
arrogante, que cospe na cara de muita gente, e que se orgulha de dizer que é
sim, uma aberração. Agora morra no seu ódio e deixe-me em paz. Sem comentários
para a participação de Gene Simmons na canção, o contrabaixo ronca. Brian
Whelan no piano, figurando a única ajuda de fora no disco, que não teve nem
mesmo participação de compositores exteriores. A canção parece algo que ficou
perdido no material de Live To Win, disco solo de Paul Stanley, mas tudo bem.
Back To The
Stone Age, é uma canção da idade da pedra. Começando com um belo grito de YEAH!
do The Demon, parece com Ted Nugent em “Crave”, a canção remete ao passado da banda,
com Eric Singer exibindo uma nostálgica lembrança de Peter Criss ao tocar muito
parecido com ele no refrão da música. Canção Carne-com-Batatas, do jeito que Gene
Simmons prometeu. 3 minutos de ótimo, e consistente Hard Rock.
Shout Mercy
é um flerte com a Invasão Britânica setentista, imagine o KISS criando uma versão
de Simpathy Of The Devil e It’s Only Rock And Roll, com um pouco de Uh! All
Night. Shout Mercy vem
com incríveis Whoo Whoo, como Simpathy Of The Devil, e alguns riffs que remetem
de cara a It’s Only Rock And Roll, mas naquele estilo oitentista que o KISS
teve.
Long Way
Down é mais séria que a anterior, e exibe influências de Led Zeppelin e Humble
Pie. As bandas favoritas de Paul
Stanley. Definitivamente, a meu ver, se trata de uma canção totalmente nova no
repertório KISS. Não há nada no vasto repertório de 200 músicas dessa banda
parecida com essa canção. Ela soa mesmo é como uma banda dos anos 90, num
debute visceral. Excelente canção!
Eat Your
Heart Out, é assustadoramente incrível. Uma capela de apenas 20 segundos,
abre o lado B do disco, e lembra demais Grand Funk Railroad! Atire-me uma pedra o doido que provar o
contrário. A canção não é lá uma das
melhores do disco, mas isso também é algo difícil de se conseguir num disco
belo desses, mas é um clássico de KISS. Extremamente alegre, Riff fantástico,
linha de baixo compacta, solo pequeno, direto mas bem feito, com uma evocação
no refrão a te fazer cantar, com Gene Simmons tendo um orgasmo musical ao fim
de cada frase do refrão. Absolutamente monstruosa.
Monstruosa
porque Monster é realmente um disco de grandes proporções, mas deveria ter algo
mais potente para fazer jus ao nome, e é ai que chega The Devil Is Me.
The Devil
Is Me já começa com um Riff mais sombrio, e com a melhor apresentação de Gene
Simmons, tanto em composição, quanto em apresentação, desde I Love It Loud. I’m
An Animal e Russian Roulette do antecessor Sonic Boom poderiam ser consideradas
grandes apresentações de Gene Simmons, mas ele apresentou um sarcasmo
extremamente consistente e agressivo nessa canção, que também é agressiva no
ponto de vista musical. Um monstro de canção, com um refrão que arrepia cristão.
“Acordei todo suado e ouvir Deus dizer para mim: O Diabo é eu! O Diabo é eu! Eu
luto contra mim mesmo para ser livre, porque o Diabo é eu!” Humildemente seleciono esta canção como a
melhor do disco. Visceral, potente, com letra digna de ser considerada Heavy
Metal, acredito que até mesmo DIO gostaria de canta-la. Destaque do disco.
Logo após
dela, vemos Tommy Thayer cantar sua segunda canção oficial no KISS, a bela
Outta This World. Canção fantástica, eu tenho que assumir, a canção tem Riff parecido
com o de Mr Speed, e podemos dizer que ela não tem basicamente nada de muito
interessante. Mas ela parece uma top canção do AC/DC nos seus tempos de glória,
mas como não posso deixar de falar, Paul e Gene tentam ludibriar seus fãs ao
colocar uma canção com letra que parece feita por ACE FREHLEY. A canção é praticamente a segunda versão de
Rocket Ride, canção inédita do Alive II, te convidando para ir dar uma passeada
no Foguete dele. Tommy Thayer fez o melhor disco de sua carreira, mas nesta
canção ocorreu seu único deslize: Fazer um solo extremamente Ace Frehley,
imitando sons do espaço, usando uma letra que só Ace Frehley faria, porém está
perdoado, com certeza foi ordem dos Patrões. Porém o foguete do Thayer nunca
será o foguete do Ace Frehley.
All For The
Love Of Rock And Roll é uma música puro KISS, basicamente uma daquelas
candidatas a Hino-Do-Rock que a banda tem de sobra em músicas como Rock And Roll
All Night, God Gave Rock And Roll To You II, com um empréstimo de inspiração na
letra de It’s A Long Way To The Top, do AC/DC com o clima festivo de I Love
Rock And Roll, da rainha do punk Joan Jett.
Take Me
Down Below é uma canção imatura, impertinente, com aqueles refrães de músicos
rebeldes dos anos sessenta, gritando “Se está barulhento demais, é porque você
está velho demais!”. Não cola mais para Paul e Gene, sessentões quase
setentões. Mas é muito agradável se você esquecer esses detalhes... Porém se
Paul não tivesse produzido o disco sozinho, um produtor de fora provavelmente fá-lo-ia
reescrever a canção, e não estaria lá tão errado.
Last Chance
é uma canção belíssima, onde talvez só a Bateria de Eric Singer não encaixa tão
bem, a pegada 1,2,3 &4 não encaixou muito bem com o groove tocado por Gene
e com o Riff de Thayer mas algo me diz que era exatamente o que ele queria. Vai
saber. A canção em si tem uma letra fantástica.
Right Here,
Right Now, é aquela canção que tenta te ensinar como viver sua vida, te diz que
a vida é para ser vivida agora, que o ontem não interessa, e o amanhã é apenas
uma dúvida, para que tu faças tudo aqui e agora. Na voz de Bono Vox eu diria
que seria horrível, mas porque ele é um dos maiores chatos de plantão do mundo,
nada contra o U2, sim contra ele. Mas ficou Quite Well como musica do KISS.
Não tenho
peito para dizer que MONSTER seja o melhor disco do KISS. Esta banda tem na
bagagem uns anos setenta quase impecável, porém está longe de ser um dos piores
discos do KISS. Pelo contrário, este disco apaga todos os erros da banda nos
anos 80, se equipara aos bons poucos discos dos anos 90, e faz-nos perdoar a
banda por não lançar nada na década seguinte. Considero-o extremamente mais
maduro que o antecessor Sonic Boom, ainda mais que o precedente Psycho Circus,
e o coloco entre os 5 melhores discos já lançados pelo KISS.
Funciona
porque não tem músicos de fora. Não tentou soar como um disco do passado do
KISS, pegou influencias de outras bandas, fez algo novo, sem buscar seguir
tendências da época, para vender bem ou angariar novos fãs, o disco é também
abusado. Tiraram a bunda da Poltrona do Conforto, fizeram material novo,
diferente de qualquer coisa já lançada pela banda, pelo menos 4 músicas são
assim, e deram – enfim – liberdade para Tommy Thayer e Eric Singer fazer um
excelente trabalho.
All Music
que morra e queime no inferno dos traiçoeiros faladores de merda, que tem por
objetivo só falar mal do KISS, e digo isso porque o safado que fez a resenha de
MONSTER para a badalada revista não merece sequer viver ao fazer comentários esdrúxulos
como os que fez. Provavelmente ele só ouviu o single Hell Of Hallelujah ao
fazer a resenha, já que apenas criticou a banda de ser uma banda-vendedora-de-souvenir.
Eles são, porque são fodas e tem a maior
marca do Rock And Roll para explorar.
MONSTER?
Nota 10.
Phelipe